quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Maria Ana de Áustria
em Sesimbra

A Gazeta de Lisboa de 1731 traz esta interessante notícia da visita da rainha Maria Ana de Áustria – casada com D. João V – à "outra banda", ou seja, ao que hoje se designa por Península de Setúbal, mas melhor seria chamar Península da Arrábida:

No tempo em que Sua Majestade, e suas Altezas estiveram da outra banda do Tejo, se divertiram em ver a quinta de António Cremer, a de João Pedro Soares Coutinho, a de João Guedes de Miranda, Senhor de Murça, a de Manuel de Sousa em Calhariz, a do Marquês de Nisa, em Palhais, e a dos Duques de Aveiro em Azeitão. Fizeram várias montarias a javalis, veados e lobos. Viram as pescarias das armações de Sesimbra, e a das chinchas de Setúbal, e alternando os divertimentos com as devoções, visitaram o devoto Convento da Arrábida, o mosteiro das Religiosas de Jesus de Setúbal, as milagrosas imagens de Nossa Senhora do Cabo, e del Carmen, e a Lapa de Santa Margarida.

Decorreu esta visita em Junho de 1731, e ainda Azeitão pertencia ao concelho de Sesimbra. Quer Manuel de Sousa – antepassado dos Duques de Palmela – quer os Duques de Aveiro estavam longe de sonhar a perseguição que lhes seria movida no reinado seguinte – o de D. José, que nessa altura era ainda um jovem, que faria 17 anos neste mesmo mês, e que acompanhava a mãe nesta visita galante.
O Príncipe D. José, que acompanhou a mãe na visita à "Outra Banda do Tejo".


Tirando a visita ao Convento de Jesus e o passeio a ver as chinchas, o passeio decorreu essencialmente no concelho de Sesimbra, onde a Rainha esteve por mais de uma vez. E logo na primeira vez que veio a Sesimbra, aconteceu que se estava a preparar, na Igreja Matriz, o baptizado de uma menina, filha de Francisco Xavier da Silva, que ocupava o cargo de Juíz de Fora de Sesimbra. Continuemos com a reportagem da Gazeta:

No primeiro dia que Sua Majestade foi a Sesimbra, visitou logo a Igreja Matriz, e estando nela para se baptizar uma filha do Juiz de Fora da mesma vila, lhe fez a honra de ser sua madrinha, e com a sua ínclita piedade a sustentou nos seus reais braços, inspirando tanta edificação e afecto em todos os circunstantes que observaram, com admiração, tão rara benignidade, que não puderam deixar de a testemunhar com lágrimas.

Deve ter sido um momento memorável para quem assistiu. O registo de baptismo, no dia 5 de Junho, não só comprova a notícia, como ainda que o príncipe D. José – que fazia anos no dia seguinte – foi ele próprio padrinho da menina, oportunamente baptizada como Mariana.

Registo de baptismo da Mariana, filha do Juiz de Fora de Sesimbra: "foram Padrinhos por contacto físico a Sereníssima Rainha D. Mariana Josefa Isabel Sofia de Áustria e o Sereníssimo Príncipe D. José".


A Rainha, Maria Ana Josefa Isabel Sofia, era filha do imperador da Áustria, Leopoldo I, e da sua mulher, Leonor Madalena. Uma irmã desta Leonor Madalena, Maria Sofia, casara com D. Pedro II e, portanto, era mãe de D. João, o que quer dizer que Maria Ana de Áustria casara com um primo em primeiro grau.

A Rainha era pessoa muito culta, que conhecia e falava várias línguas (alemão, francês, italiano, espanhol, latim e português, além de perceber o inglês). Também se interessava por coisas do mar, gostava de passear ao longo do rio Tejo com a Família Real e a Corte, onde assistia frequentemente a festas e serenatas no rio e lançamentos de navios no mar

João Augusto Aldeia