sexta-feira, 21 de outubro de 2016

A epidemia de cólera de 1833

A epidemia de cólera de 1833 atingiu seriamente Sesimbra. Nos cinco anos anteriores, a média anual de mortes, nesta vila, rondava as 92 pessoas — e, neste número, pesava bastante a mortalidade infantil. Porém, em 1933, estão registadas as mortes de 286 pessoas: mas trata-se de um valor subavaliado. O próprio padre encarregado deste registo escreveu que, a este número, se deveriam somar mais 200 mortes, que não chegaram a ficar registadas no livro da paróquia de Santiago. Ou seja: no total, um número de mortes superior a 5 vezes ao que era normal.

"Morreram pouco mais ou menos este ano d'ambos os sexos
— 286, isto é, os que aqui se acham descritos; porém,
morreram muitos mais, andarão por 486 — e que não houve
ocasião de descrever todos, que morreram pela cólera."

O Padre Joaquim Pedro Cardoso.

A cólera já grassava no Norte da Europa desde o ano anterior e sabia-se que inevitavelmente chegaria aos países ibéricos, e essa chegada deve ter sido precipitada pelas movimentações de tropas da guerra civil portuguesa. Manifestou-se, no início de 1933, no porto de Vigo, na Galiza, mas rapidamente se espalhou pela península.

Pelos livros da paróquia de Santiago, verifica-se que o número de mortes começou a aumentar no final de Maio, e que só no mês de Junho se registaram 200 mortes: um número igualmente subavaliado pois, perante a avalanche de vítimas, deixou de se registar o falecimento de recém-nascidos. O gráfico anterior permite ver que foi sobretudo nas primeiras semanas de Junho que a epidemia vitimou os Sesimbrenses. No entanto, entre os dias 29 de Julho e 1 de Outubro não foi feito qualquer registo e, por isso, fica a dúvida sobre o que se terá passado nesse período.

Uma das vítimas foi o doutor Francisco Rodrigues Miranda, médico do partido de Azeitão, enviado por ordem do Governo para tratar dos doentes da vila de Sesimbra, e que morreria da mesma enfermidade a 13 de Junho de 1833.


Voto da Câmara de Lisboa, em 5 de Julho de 1833, para realização de uma
procissão de penitência, "à vista da calamitosa epidemia, que tão
mortífera se tem feito nesta Capital, e muitas partes do Reino".
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